domingo, 23 de junho de 2013

Sem nada de mim

Sem muito que diga,
E tanto, também.

Sem crenças, vontades, conteúdo.
Só contexto, outros, transparência.

Sem nada de mim.
Sem saber onde ando, o que quero.
O que não quero.
Sem nada.

Solidão











Quando estou só reconheço
Se por momentos me esqueço
Que existo entre outros que são
Como eu sós, salvo que estão
Alheados desde o começo.
E se sinto quanto estou
Verdadeiramente só,
Sinto-me livre mas triste.
Vou livre para onde vou,
Mas onde vou nada existe.
Creio contudo que a vida
Devidamente entendida
É toda assim, toda assim.
Por isso passo por mim
Como por coisa esquecida.

Fernando Pessoa